30.7.03

mas eu não quero falar das tristezas.
se meu conselho valer, eu que andei por esse caminho ainda tão nova, você que me lê, que sabe de alguém que esteja passando por situação semelhante, faça o que não fizeram por mim.
não divida a família.
não diga para a mãe ser forte para os filhos, e para os filhos serem fortes para a mãe. não ensine que as dores devem ser vividas individualmente porque o outro não é forte para segurar a dor dele e a sua também.
demorei muito para aprender sozinha o óbvio: ninguém tem que ser forte num caso de doença. as pessoas precisam se unir, como numa nevasca, para que o calor de um aqueça o outro, numa bolinha de gente se defendendo do frio.
respeite a maneira que a pessoa vive esse momento. não adianta nada dizer "reaja! grite! bote para fora a sua dor!" se a pessoa não está pronta para entrar em contato com essa dor. eu estou vivendo a dor da perda do meu pai aqui, em palavras, mais de dez anos depois do derrame que o deixou cinco anos em coma.
seja gentil. deixe saber que você está por perto. para aquelas conversas sem palavras. para ouvir um disco e dançar. para levar pro cinema, uma comédia boboca, para dar risada. essa é a força necessária para enfrentar doenças e tragédias. não esconder o problema, não botar um holofote nele. sim, o problema existe, mas a vida continua, e isso é o estranho da vida. ela continua. a gente continua. e até quem morre continua na gente.
a questão é como a gente vai continuar.
eu não perdi a esperança, o amor pela vida, o amor por meu pai, a mania de falar besteira, o carinho pelas crianças, um certo lirismo. mas perdi muito da minha adolescência, perdi o sossego quando o telefone toca mais tarde na noite (primeiro pensamento: é desgraça?), ganhei uma angústia ao ver ambulâncias e total incapacidade de assistir filmes com pessoas doentes.
esse foi meu preço.
não sei qual será o dos outros.
mas você que está me lendo, não desista.
viva a sua vida, as suas dores, suas alegrias, do seu jeito. e saiba que é do ser humano sobreviver.

28.7.03

eu já ensaiei o que ia dizer.
explicar como é que a gente convive cinco anos com o pai em coma, no quarto ao lado, com enfermeiros entrando e saindo de casa o tempo todo.
é estranho.
é estranho pois eu tomei para mim a responsabilidade da alegria da casa.
então eu falava muita besteira, organizava amigo secreto com papai no meio, entrava na ambulância dizendo que ia tocar a sirene e chorava no meu quarto, atrás da porta, luz apagada para ninguém saber.

e eu tinha raiva. muita raiva, porque era mais fácil ter raiva do que ficar triste.

e minha prima me disse o maior paradoxo da vida do meu pai: se ele tivesse se agarrado à saúde como se agarrava à vida, ele não tinha adoecido.

é verdade.

se ele tivesse deixado o doutor "mandar na vida dele", ele não teria adoecido daquele jeito. morrer, todo mundo morre, mas talvez tivesse ganho uns anos de lambuja. mas ele não ia obedecer doutor! quem mandava nele era ele mesmo! e daí deu um avc, depois de dois anos um enfarte, depois de não sei mais quanto tempo o segundo avc que virou coma vigil e a vaca foi pro brejo.

mesmo em coma, papai segurou firme cada fiapinho de vida que pôde. mas foi definhando e indo embora, aos poucos. foi ficando sem expressão, molinho, distante. quando morreu, eu acho que ele já tinha ido embora há tempos.

mas ainda assim fazia o gesto de fumar. os dedos da mão segurando um cigarro imaginário.

25.7.03

uma vez papai me disse que, quando as pessoas se casam, levam para a casa delas dois estilos de viver diferentes: o da casa dele e o da casa dela, e passam a construir um novo estilo: o da casa dos dois.

isso me valeu muito quando casei. tenho meus hábitos, fred tem os dele. e a gente foi construindo aos poucos o jeito da gente viver junto. sem achar que o meu jeito é que era o certo.

24.7.03

maria clara era bebê de um ano quando papai adoeceu. todas as lembranças dela são do avô doente, em cima de uma cama, magrelinho.

quando ela nasceu, papai se inspirou e escreveu coisas lindas no seu álbum de bebê. mas ao pegar a menininha no colo, desajeitou. para ele, criança só chegava perto quando tinha mais de seis meses, já estava mais esperta, durinha, podendo brincar.
falando de sobrinhos, agora.

meu sobrinho mais velho, bruno, é o único homem da família. e nasceu e foi criado em rondônia, vendo a gente de três em três anos, mais ou menos. há uma foto de papai com ele no colo, uns sete meses de idade. papai estourando de orgulho com o neto.

numa visita quando ele tinha 13 anos, me perguntou a altura de papai. olhei aquele adolescente espichado, puxei pela memória... papai era mais baixo.
ele se espantou: pelo que minha mãe fala, eu achava que o vô era um gigante!


era, bruno, era. mas não em altura.
minha sobrinha ana luiza e papai eram loucos um pelo outro, tanto que, quando ela ia dormir lá em casa, dormia junto dele, no colchonete no chão, a coisa mais linda.
pois ela tinha três anos quando esta história aconteceu.
eles estavam lanchando passa de caju. papai resolveu brincar com ela, distraindo-a e roubando um pedacinho do doce. na terceira vez, ela olhou para mamãe e reclamou, magoada:
"Mãe Nena, ele não me respeita!"
papai ficou de queixo caído olhando aquele pedacinho de gente.

Sim, ela chamava papai de Vovô Lalo e mamãe de Mãe Nena. nunca chamou vovó.

23.7.03

zaguri
herói
zorba
ico
mogli
charles
igor



alguns cachorros que meu pai teve. eu conheci os quatro últimos.
o zorba foi por causa do filme. muito antes da cueca.
zaguri era o nome de um amante de brigitte bardot
ico era para se chamar dener, um famoso costureiro do começo dos anos 70, mas eu era muito pequena e não sabia dizer dener. dizia ico, ico ficou. era um fox terrier branco e preto fujão como o diabo.
mogli por conta do filme. era pequinês e marrom.
charles foi por conta do príncipe. papai trouxe ele na semana do casamento. outro pequinês marrom.
igor já veio com esse nome. o primeiro com pedigree. igor redwhite. um yorkshire terrier marrom e preto, bem pequeno. morreu pouco tempo depois de papai adoecer, na casa de uma prima que ama bichos e até hoje sente culpa dele ter morrido na casa dela. a gente acha que foi de tristeza.
tem um livro que gerou briga entre eu e meu pai.
a disciplina do amor, da lygia fagundes telles.
ele dizia que era dele, eu tinha certeza de que tinha comprado.

por um livro desses vale até briga com pai.

22.7.03

escrevi um post e o blogger apagou.
acho que não era para ser dito.
cheiro de cigarro é uma coisa que me enerva.

mas quando papai fumava seus quatro maços de carlton diários eu nem sentia o cheiro.

e depois que o coma fez com que ele parasse de fumar, cigarro era cheiro de saudade. cheiro dele.
respondendo um e-mail do edson

cada vez mais eu fico comovida com o retorno que eu estou tendo do blog. o que começou como uma tentativa de preservá-lo na memória, uma escrita íntima, acabou se revelando uma janela onde muita gente veio ver seus pais e seus sentimentos.
o blog do meu pai é a despretensão em forma de blog. como passo muito tempo no micro, preferi digitar ao invés de escrever num caderno. não tenho pretensões de fazer literatura nem entrar na história. é só uma menina lembrando do pai. e encontrando muita gente para compartilhar as histórias...


eu tinha 15 anos. um eletricista tava lá em casa e não acertava o jeito de trocar uma tomada. papai me chamou. tela, vem trocar essa tomada. mas eu não sei, pai. eu ensino para você e para esses dois aí. mas antes, troca esse vestido por uma calça jeans.
troquei de roupa e troquei a tomada. ele ensinando, bem calmo.
os dois marmanjos ficaram com cara de besta. e eu também, pois eu não sabia que eu poderia trocar tomada.

e olha o cuidado dele comigo, pros marmanjos não olharem minhas pernas.
uma vez, papai me disse que a coisa mais gostosa que ele comeu foi um ovo frito no óleo num passeio a uma usina, nos tempos dele mocinho e repórter. ele estava doido de fome e comeu esse ovo com farinha. e nada foi melhor, a vida toda.

a minha comida mais gostosa tem a ver com ele. a gente estava conhecendo a casa nova, em surubim, nossa primeira casa-de-chão de muito tempo, com quintal, jardim, goiabeira, coqueiro, meu deus, uma festa.
aí bateu a fome e quedê comida? a despensa estava trancada, as chaves em recife. e a despensa tava cheia de comida em lata, justo para aquela visita. para meu espanto, papai não se irritou: fomos na feira, compramos um pedação de carne. fomos na venda da esquina e compramos álcool, sal, farinha e um litro de coca cola. tijolo e carvão já tinha na garagem e pedimos no vizinho uma faca e uma panela.
num ato mcgyver, painho construiu um arremedo de churrasqueira, limpou uns galhos de goiabeira, espetou a carne neles e nós comemos o melhor churrasco do mundo.
só nosso.
papai só sabia desenhar o dick tracy. e de perfil.

e meu deus, que letra horrível. às vezes nem ele entendia. a assinatura, então, era um embolado que parecia um novelo depois de atacado por um gato.
uma das coisas que me espanta na vida é saber que meu pai era um só.
mas eu o via de um jeito,
minha mãe de outro,
minhas irmãs de outro.

cada pessoa via geraldo do seu jeito. não do jeito dele.
da Fal

Porque eu não sabia o quanto doía, embora soubesse da dor. Porque seus gritos me paralisavam de medo. Porque eu nunca aprendi a perder. Porque eu nunca soube ganhar. Porque você me deu a chave de casa quando ainda era muito cedo pra isso com o aviso "faça o que quiser, vá pra onde quiser, mas todo dia, às seis da manhã, eu tiro você da cama pra escola".
Porque você comprava biscoitinhos recheados de chocolate e dizia "Bi, vem cá, comprei os Olímpicos". Porque você chamava a despensa da casa de "special reserve". Porque você cantava a música do baile na gafieira pra mim, e a dos sapatos de Iracema e aquela em italiano, sobre o comunismo e a liberdade. Porque você me ensinou a amar música cubana.
Porque eu não passo 24 horas sem pensar em você. Porque eu amava o Alexandre e quando você o conheceu, você o amou também. E aí, meu amor por ele aumentou. Porque você me levou para viajar pra tudo quanto foi lado, e viajar com você era andar com o melhor guia turístico do mundo. Porque uma vez, em Lisboa, você me disse : "Civilização, é isso aqui, digam o que disserem. O mundo é melhor em Portugal, Bi". Porque até os motoristas de táxi da Alfama te conheciam. Porque você sabia dos gregos, dos romanos, dos fenícios, dos visigodos.
Porque as suas malhas tinham um cheiro bom. Porque ninguém podia usar seus chinelos ou mexer no seu umbigo. Porque no dia da formatura do Pedrão, ele ali no palco, você me disse "seu irmão foi a melhor coisa que eu já fiz na vida" e eu fiquei triste e feliz ao mesmo tempo. Porque agora, seu globo terrestre é meu. Porque você botou a Setembrina nas nossas vidas, e agora eu tenho pesadelos horríveis com ela, e acordo chorando. Porque sua mãe tinha olhos azuis e me chamava de "cariño". Porque você botou a Lola na minha vida, e isso não tem preço. Porque eu queria um pai, não um amigo.
Porque nós não fomos nem amigos. Porque você andava a cavalo como um Huno, e eu tinha tanto orgulho que achava que ia desmaiar. Porque eu nunca vi mãos tão belas quanto as suas.
Porque você é meu pai, e ninguém tira isso de mim. Porque as palavras duras nunca paravam na sua garganta e sempre paravam na minha. Porque você se deitava no chão do meu quarto, pegava na minha mão e cantava "se essa rua fosse minha" com a voz mais doce do mundo. Porque você, mais que ninguém, me ensinou que ostentar tudo, de carro novo a conhecimento, é a coisa mais execrável que se pode fazer. Porque o Alexandre vive dizendo "se o Nelsinho estivesse aqui...". Porque você me ensinou a andar de bicicleta. Porque você sabia como me magoar. Porque você cantava no banho. Porque seu pai foi a pessoa que mais me amou nessa vida. Porque você nadava tão bem, pulava tão lindo do trampolim. Porque eu subia nos móveis e gritava "madeeeeeeeiraaaaa!"e você corria pra me apanhar. Porque você me mandou pro Rio, pra ver o Bolshoi no Municipal. Porque você nos contava as historinhas do Bingo.
Não, Pingo. Bingo. Pingo. Ai, pai, decide, como é o nome do indiozinho? Porque você passava o tempo todo fazendo média pra arquibancada, e só a gente sacava. E agora, pagamos o preço pelo seu teatro... e isso não é justo. Porque seus carros tinham nomes engraçados como "Roberta Close", "Juvenal Alfafa", "Viatura". Porque a vida sem você é tão ruim, que muitos dias eu não consigo nem sair da cama. Porque você nunca disse que eu era bonita. Porque você dissecava peixes, asas de galinha, galinhas inteiras, até uma cobra que você atropelou, pra explicar como os bichos funcionavam e uma vez na feira, (lembra?), a mamãe comprou um filhote de tubarão e foi a maior aula da minha vida. Porque você dava aulas de astronomia também, com lanternas e laranjas, e depois nos levava ao Planetário. Porque eu nunca fui capaz de ser o que você queria que eu fosse. Porque você amava meus cabelos.
Porque você me ensinava o que havia de mais invocado em genética, e eu adorava. Porque você tinha enciclopédias
geniais, e agora elas estão aqui. Porque eu tenho uma foto sua com uma flor na boca. Porque na primeira vez que eu me vesti de "mulherzinha", você tirou os tamancos plataforma dos meus pés no meio da rua, e jogou num tereno baldio, e eu não me lembro de humilhação maior. Porque 12 horas antes de morrer, você estava preocupado com a minha gripe. Porque eu nunca amei tanto alguém. Porque eu nunca odiei tanto alguém. Porque você fazia "ovos no inferno" e tostex, e nós ríamos na cozinha. Porque você se cercava de gente de décima categoria, pai, sempre. Porque você adorava as cantinas do Bexiga, e comia fussili e perna de cabrito. Porque você tinha a gargalhada mais gostosa e mais rara, e o que eu mais desejava na vida era fazer você rir. Porque hoje é seu aniversário e você não está aqui. Mas eu estou. Então, você está aqui, em mim.
papai tinha uns cuidados nas horas mais estranhas.
como quando teve o enfarte.
eu estava com ele quando a dor começou. mamãe já estava dormindo.
então ele ficou estranho e me disse "Tela, vá no quarto e acorde sua mãe, diga para ela pegar meu sapato"
"Sapato prá quê, pai?"
"Só diga isso"

fui lá, acordei mamãe. ela foi para a sala sem entender, mas sem estar assustada.

daí chamaram o hospital.

eu tinha 12 anos.
conversando com aninha, amiga que só conheceu papai quando ele já estava em coma:

queria que você tivesse conhecido papai com saúde.
mas eu já o conheço.
como?
através de você.

17.7.03

ô meu pai, o micro quebrou de novo.
estou teclando de um cyber café que fica num brechó aqui em botafogo. pensem num lugar apertado. assim não dá para ter inspiração para escrever!

11.7.03

não sei de onde papai tirou que eu gostava de chokito.
sempre detestei. apesar de adorar a propaganda. leite condensado, ca-ra-me-li-za-do, coberto com flocos crocantes e delicioso chocolate nestlé.
mas comia porque ele ficava contente.

papai gostava de toffe de caramelo. sempre que vejo, me lembro dele.

mamãe fazia uma sobremesa de suspiro mole e creme de caramelo que se chamava gateaux não sei do quê. papai avacalhou e mudou o nome para gato na neve. e o nome de verdade, quem se lembra? ;)

ter uma filha de 10 anos é uma excelente desculpa para se comprar luluzinha e bolinha. e ler primeiro. né, pai? ele adorava, mas não admitia...
vó maria escrevia pai e mãe com maiúscula.

se ela me mandava uma carta e dizia algo cmo "obedeça ao que sua Mãe disser" ou 'dê lembranças ao seu Pai".
já vó ela escrevia em minúscula, mesmo.
outra mania besta dele era de se depreciar.
"eu sou uma gata velha que qualquer menino puxa pelo rabo"

nunca soube pq ele dizia isso. quando eu era criança eu chorava. depois fiquei com raiva. ele era o dono e senhor do mundo lá de casa e ainda reclamava?

os motivos ele levou com ele.
vó maria, mãe de mamãe, era alvo de brincadeiras de papai. sogra é cobra! ele dizia. eu ficava muito chateada com isso, mamãe também. vovó nunca falou abertamente que não gostava. e papai continuava com essa mania besta.
eu e papai sempre nos gostamos muito, a gente se entendia bem. mas eu não tinha certas intimidades com ele: ele era meu pai mas era homem. então nunca troquei de roupa na frente dele. nunca desde que me entendi por gente. tenho amigas que pediam para o pai fechar o sutiã delas, na maior inocência e acho diferente.
como eu fiquei sem jeito quando minha mãe avisou a ele que eu tinha menstruado...

sempre existiu um imenso amor - mas um amor com respeito e alguma distância.

não reclamo, ele era assim mesmo. e eu aprendi a amá-lo sem querer que ele mudasse muito.

10.7.03

às vezes eu acho que o fato de se aposentar contribuiu muito para ele ficar doente.

e homem dentro de casa endoida a mulher.
mamãe não sabia mais o que fazer, papai enchia a paciência dela. homem dentro de casa dá trabalho, ela suspirava. papai não tinha o que fazer, enchia o saco.

ô deus, tadinho, desarvorado por não ter trabalho para fazer. e estava sempre no lugar errado. mamãe exasperava, mas disfarçava.

o que ele queria mesmo era abrir um escritório de advocacia com minha irmã mais velha e um amigo advogado. mas não saiu, literalmente do papel. pilhas de papel timbrado que até hoje servem para anotar recados e fazer lista de compras.

e aquela história de "minha filha, eu vou levar e pegar você na escola" só aconteceu num único dia, de temporal.
meu pai andava de pijama pela casa. ele chamava "paletó de pijama". e de meias - hábito que eu peguei. tinha uma folga, ou até depois da aposentadoria, vestia o pijama e uma meia social, o que surtava minha mãe, pois as meias estragavam rápido.
e dormia no chão, num colchonete. depois do primeiro derrame, ele tinha medo de ficar tonto na cama e cair. então ele dormia no quarto da tv e minha mãe dormia no quarto de casal, espremida num cantinho da cama, sem se mexer a noite toda...

outra do tempo em que ele foi professor - ensinava português e história.
numa aula na turma de magistério ele percebeu que as alunas não escreviam bem. para falar claramente, não tinham lá essas culturas todas. e os textos saíam horríveis.
botou todas elas para copiarem poesia.
fim de ano, foi eleito o professor mais romântico.

ele disse que não queria ferir os sentimentos das alunas, mandando que lessem para "se ilustrar". dessa maneira, elas passaram a aprender sem perceber.

é, professor geraldo sabia das coisas.
quanto eu tinha 5 anos papai acumulava as funções de promotor com a de diretor de escola. e ele foi professor durante uns 10 anos ou mais.
certa vez ele me disse que as notas de uma classe não deviam ser uma pirâmide de muitas notas baixas, algumas mais ou menos e poucas altas, e sim um losango: poucas baixas, muitas mais ou menos, poucas altas.
isso significava que a classe estava aprendendo.

9.7.03

e papai não nos deixava dizer nada que se assemelhasse vagamente a um palavrão.
nenhum "pombas", "tou lascada" ou "arretado"

ele nunca falou nada assim na frente da gente. um gentleman.

imagine se ele me visse xingando o mundo como ando ultimamente. mandaria pôr um ovo quente na minha boca.
dor de cabeça. problemas. o que é pior é a sensação de inutilidade, pois certos problemas não se resolvem, são como aqueles problemas matemáticos que ficam séculos esperando que algum gênio resolva a equação.

queria papai agora, aqui, resolvendo tudo. mão de ferro neles, pai. mostra quem manda nessa budega, põe cada um no seu lugar e o lixo lá fora também. precisa fazer nada não, é só dizer que a gente obedece, alguns reclamando entre dentes mas obedecendo sim senhor.

ô deus, eu estou tão cansada, e só tenho 32 anos.

primeiro foi a inutilidade da revolta e a conformação engolida como mil sapos, ter que. odeio ter que. ter que me conformar, pois o senhor não ia acordar, levantar, pedir café nunca mais. nunca mais me trazer uma flor sem motivo. mas a gente acabou transformando, o poder dos 16 anos é transformar. então tome música no seu quarto, enfeite de natal, beijos e a adaptação das crianças ao novo avô.

foi uma loucura tão grande que o cachorro morreu.

mas tudo bem, a gente sobreviveu. entre mortos e feridos, a gente sobreviveu e tá pagando a conta. fred não pode dizer que tem dor de cabeça que eu tenho medo. acendem os alertas vermelhos, tá tonto? tá enjoado? como é essa dor, lateja? e isso tudo tentando parecer casual, dando a maior bandeira.

agradeço cada dia que fico longe de hospital.

sala de espera de uti é ante-sala de inferno. há uma solidariedade imensa entre os seres que habitam a ante-sala da uti. são amizades fortíssimas que duram o tempo do internamento, e umas até atravessam os portões do hospital. há choros, há risadas. tem sempre alguém que desanuvia o clima.

eu me sinto na sala de espera de uti pois mamãe piorou e eu não tenho coragem de ligar para casa e falar com ela. mas eu preciso porque ela precisa. mas eu não quero. mas eu tenho que. odeio ter que.

e a minha cabeça dói tanto. preciso fazer watsu. seria muito bom fazer watsu se eu conseguisse me desligar um pouco. porque aqui eu solto todo meu drama e extrapolo mesmo. mas do outro lado deste monitor eu sou contida. só notam o olhar mais triste, a boca meio caída.

ah, se tomar banho adiantasse. se rezar para nossa senhora da esperança. andei pensando até em ser budista. ou ir procurar quem me psicografasse uma carta de papai, só para receber um beijo. sei lá. eu não tou bem hoje. e ainda por cima é dia de faxina.

vou ocupar as mãos. vamos partir para arrumar a casa, já que arrumar o juízo é muito mais complicado.
ô, pai, se você estivesse por aqui, será que mamãe tava doente?
talvez eu passe uma imagem errada. eu era - e sou - aquela menina quieta, que fica num canto da festa, que diz que não sabe dançar.
eu só me solto em chão seguro, como este.

e agora me lembro do meu pai e eu no centro de recife, andando de ônibus. e era absurdo, pois meu pai não andava de ônibus, e entardecia.

ou quando a gente foi para o cinema - eu tinha 7, 8 anos - não sei se para ver bernardo & bianca ou superman. estava frio no cinema, e ele me deu seu paletó.

ou quando ele chegava em casa buzinando para a gente abrir a porta. umas vezes eu sentava no capô do carro e ele vinha devagarinho. e eu rindo.

mamãe piorou.
ela sofre de distúrbio bipolar, que é uma alternação de estado de euforia para estado depressivo.
não sei se o germe dessa doença já existia quando papai tinha saúde, mas lembro dele dizer, meio apreensivo: "helena está muito 'alegre'. tá na hora de dar o remédio dela.

papai escrevia difícil nos seus poemas e era coloquial em seus contos.

nunca vi papai num júri - ele era promotor - mas tenho vontade de ter visto. menor de idade não entra no salão de júri, ele me disse uma vez. voltava contente quando conseguia a condenação do criminoso. "ganhei de goleada", comentou, quando o veredito foi de 7 a zero. é, no brasil são 7 jurados e não 12 como nos estados unidos. número ímpar para não dar empate.

ele me citou uma frase, certa vez, na qual alguém importante disse "odeie o crime, mas não o criminoso"

lembro de um júri importante dele, anos 70, em olinda: o júri de anjinho, a mulher que matou o marido despejando chumbo derretido no ouvido dele, enquanto ele dormia. papai disse que o crânio fazia cloc, cloc quando sacudido. ele venceu mais essa.

papai usava o anel de formatura, o que eu achava horrível e perigoso. tira esse anel, pai, podem te assaltar. e ele dizia que, quanto maior o rubi, mais burro o doutor. e isso que o rubi dele era um descalabro, rodeado de brilhante, parecia um anel de bicheiro.

8.7.03

painho me ensinou como dançar música lenta. era o tempo das festinhas nas casas de amigos.
então, era para eu botar a mão no ombro do rapaz. porque, se ele quisesse me agarrar, eu empurraria. simples, né?

bonito como papai era cuidadoso comigo.
chato quando esses cuidados iam contra a minha vontade ;)
no prefácio do livro do meu pai - que dividiu com mais três poetas o volume 4 da Presença Poética do Nordeste, de 1985 - Nelson Saldanha escreveu que o conhecia desde o colegial, quando papai se envolveu com crítica e teatro.

veja bem, desde 85 que eu leio este livro, sei tudo de cor e salteado e nunca havia prestado atenção nessa frase. então liguei para tia stelinha, irmã de papai.

teatro? não, minha filha, lalo gostava de jornalismo e futebol de botão.
mas tá escrito...
ah, esse homem misturou tudo. nunca ouvi falar do seu pai se metendo com teatro.
tão tá, tia. brigada.

e agora? só painho poderia me dizer se é verdade. mas eu nunca ouvi falar dele em teatro. mistéeeeeeeeerio!
ele que escreveu

Buscas II

Narra a crença Islã que fora do Éden
Adão e Eva por duzentos anos
Vagaram, separados, se procurando
Deixando na terra árida
Pegadas marcadas de sangue.

Quanto mais caminhavam, distantes se tornavam
Sofrendo as mesmas dores:
Calor, frio, fome e sede,
Na terra difícil dos dias primeiros.

Jamais algum esmoreceu,
Afastados um do outro
À noite rogavam a Jeová
A presença do companheiro perdido
Fim do suplício da ausência
Imposta pela cólera do Criador.

Em manhã, num alto, o homem avistou longe
A mulher que há muito buscava, e já sem forças
Quis gritar o nome "Eva"
Mas dos seus lábios fluiu um leve sopro.

Deus, vendo sofrimento tamenho, aplacou Sua ira
Percebendo como se necessitavam
Fez do sopro do homem
Ribombar de forte trovão
E, de novo, juntos e abraçados
Fecundaram a semente da constante presença.
tem uma história que demonstra que a gente não sabe o que fazer quando um desejo secretíssimo se realiza. a gente fica boba. eu fiquei.

pois um dia, do nada, meu pai me levou na Livro 7, a maior livraria do mundo segundo o livro guiness, lá em recife. e, apesar da fama, nada mais era que um galpão atulhado de livros, nunca teve esse charme para mim.
pois eu tinha 12 anos. não era natal nem meu aniversário. e eu tava fuçando na sessão infantil, eu sou traça desde que aprendi a ler. e meu pai disse aquela frase.
pode pegar quantos livros quiser.
não era natal, não era aniversário, eu não tinha um boletim cheio de notas 10, eu não sei o que aconteceu. e aquela frase.
pode pegar quantos livros quiser.
e eu com olhos arregalados, sem condição de atinar que eu tinha uma sessão infantil aos meus pés.
fui juntando livro meio abobada. esse, esse, esse e mais esse.
cecília meireles, monteiro lobato, asdrúbal o monstro amarelo.
pena que só peguei os 12 trabalhos de hércules, mas ainda assim que delícia.
alice no país das maravilhas.
tanto livro que pesava.
eu posso, pai?
pode.
acho que peguei uns 10 livros. o que era um infinito de livro para mim.

e a alegria atônita. como assim, o que eu quiser?

7.7.03

eu li no meu mundo e vim copiar aqui. porque é lindo. lindo, lindo, lindo. tão lindo que eu queria ter escrito.

Saudade do meu velho pai. Uma saudade mansa, assim da cor do céu quando o sol está se pondo.


desculpem, mas não sei o nome de quem escreveu. a criatura não assina os posts!

a autora me escreveu. Se chama Lu. Brigada, Lu, por escrever coisa tão linda.
queria que aninha e clara tivessem tido mais tempo para conhecer papai. e meus amigos que só o viram doente, que não conviveram com a pessoa brincalhona que ele era. e fred. bem, fred é outro caso.
talvez papai o adorasse, pois fred é um amor.
talvez papai quisesse matar, pois fred não casou comigo nem no cartório, nem na igreja.
engraçado como as pessoas que criticavam meu pai (como o marido de lu) acabaram, com o tempo, não só admitindo que ele estava certo em muitas coisas, como repetindo as mesmas atitudes que eles achavam erradas...
lembranças são como uma polaroid ao contrário. a imagem que era clara e nítida vai borrando até ficar alguma coisa. que nem é a coisa mais importante, mas que, de alguma maneira, ficou marcada.

os dedos amarelos de nicotina.
o amor pelo café pequeno, doce, não muito forte. várias vezes por dia.
o jeito de bater o pão com manteiga depois de mergulhar no café: duas, três vezes na borda da xícara.
ou mergulhar bolacha sete capas no café com leite, comer a bolacha empapada com a colher; depois, virar o café no pires e beber, enquanto minha irmã ficava histérica e neon.
o fato de ser o pior motorista desde a invenção da roda.
e de prometer coisas e nunca cumprir. a viagem para a disney. a coleção de monteiro lobato. a bicicleta.
e do fato de dizer "quando eu puder, eu faço" ou "quando eu puder, eu dou" quando não queria negar de cara.
o lábio fino que se feria com o bigode, deixando um pontinho de sangue.
o cabelo preto e o bigode branco.
eu não gostava quando ele tirava o bigode. ele ficava tão bonito de bigode!
os paletós.
o adesivo de nitroglicerina colado no peito, rindo e brincando que era só para mostrar a camisa nova que ele falava nesse adesivo.
os cigarros carlton de caixinha.
os remédios para o coração espalhados pela casa.
os gladíolos aos sábados.
a mania de me mandar ir com mamãe para onde ela fosse, para ela não sair sozinha.

já falei que ele escrevia?
contos e poemas. os contos estão guardados na gaveta da estante, na casa da minha mãe.
escrevia fácil, simples, fluente e sem frescura. o que eu mais gosto é o conto do garoto, que tem lá sua cara de autobiográfico. o que me faz chorar é o que fala do enfarte dele, principalmente o trecho da minha visita, calada, assustada com os monitores e os fios colados no meu pai. eu tinha dez anos.
morro de ciúme até hoje porque ele escreveu um conto para graça, quando ela tinha sete anos: o peixinho dourado. ele nunca escreveu um conto para mim. e essa história contava de quando eles se mudaram da praia para o sertão, e um peixe dourado ficou triste porque graça não ia mais brincar com ele.

4.7.03

meu pai dizia muito "quando você for mais velha, vai entender" quando não queria explicar alguma coisa mais embaraçosa.
isso ficou bem claro quando eu fiquei mais velha e entendi uma coisa que aconteceu quando eu ia fazer 13 anos.
um amigo dele foi lá em casa, em surubim, e pernoitou lá em casa.
papai me chamou num canto e mandou que eu trancasse a porta do meu quarto por dentro.
não entendi. eu sempre dormi com a porta fechada, mas não trancada. e argumentei que mamãe não ia poder entrar de manhã para me acordar para ir para a escola.
ele mandou que eu obedecesse, pois, quando fosse mais velha, eu entenderia.

pois é.

2.7.03

frase dele:

eu te amo a vida toda e mais cem anos
meu pai me mostrava com orgulho para os amigos. a filha mais nova, a ponta de rama.
eu nasci quando ele tinha 43. minha mãe tinha 40, minha irmã mais velha 17, a outra tinha 11.
aos que falavam dele por não ter tido um filho homem, ele dizia que cada um faz o que gosta.
ele gostava de mulher, tinha três filhas mulheres.


mas sempre quis ter um filho homem para se chamar geraldo também. se júnior ou filho, eu não sei, mas acho que não ia ser júnior- já tinha um na família.

ele me fazia prometer: eu tendo filho homem, ia ser geraldo 1, geraldo 2, geraldo 3...
meu pai uma vez me disse um dos momentos em que ele foi mais feliz.

foi no começo do casamento dele com mamãe. eles iam sair à noite, ela estava se vestindo e a meia-calça desfiou. então ela abriu a gaveta da cômoda, tirou outra meia e vestiu.

"se isso tivesse acontecido alguns meses antes, minha filha, ela não teria outra meia guardada, pois a gente estava passando por uma situação difícil."
acho que só não perdôo a mania chata dele escolher minhas roupas. ele que comprava, ele que escolhia. logo, eu parecia muito mais velha, com roupas estilo senhôra. aos 14 anos é difícil fazer o pai entender de moda.

"use roupas clássicas"

aaarhg!


mas quando eu tinha 14, 15 anos era a época do gel new wave com purpurina, eu tinha uma blusa de tecido amassadinho verde-limão com um botão imenso estilo cebolinha. é, olha prum desenho do cebolinha, a blusa era mais ou menos aquilo, só que sem gola e dum tamanho que cabia a minha família inteira dentro dela.

uma amiga minha tinha uma calça quadriculada de preto e amarelo-ovo.

é.

acho que o conselho de ser clássica procedia. o pobre devia ter medo de compar as roupas da moda e levarem a menina dele pro hospício.
sim, meu pai pisou na bola comigo um monte de vezes. mas não tem importância. guardo rancor, é verdade, mas dele não. nem pelo fato dele ter morrido, não é por isso que virou santo. mas é que o amor dele sempre foi mais. e o meu amor por ele também. de outras pessoas não perdoaria um tico. dele, sim. tudo. pq o amor é mais.

e teve um sonho, muito tempo atrás, que eu o via na rua, andando. e gritava: geraldo cavalcanti! ô, geraldo cavalcanti! mas ele se perdia na multidão, não olhava para ver de onde vinha o grito.

e eu sempre me perguntei pq não chamei, simplesmente, pai.
de vez em quando eu e painho nos juntávamos para atormentar minha mãe. a preferida dele era ficar sério e dizer para ela que, quando ele se aposentasse, a gente ia morar em tamandaré - praia do litoral sul de pernambuco - e abrir uma escola para os filhos dos pescadores. eu ia ser professora, ele também.
era o suficiente para minha mãe botar mãos pro céu.
geraldo! você sofre do coração, vai fazer o quê naquele fim de mundo? e se você passar mal? e isso e mais aquilo?

e eu e ele ficávamos rindo de mamãe, coitada, tão boba.
pai, essa música me lembra você.

Vento no Litoral

De tarde eu quero descansar,
chegar até a praia e ver
se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras.
Sei que faço isso para esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora

Agora está tão longe, vê:
a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que eu tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção.
Aonde está você agora além de aqui dentro de mim?
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo.
E quando vejo o mar existe algo que diz:
"- A vida continua e se entregar é uma bobagem."
Já que você não está aqui,
O que posso fazer é cuidar de mim.
Quero ser feliz ao menos.
Lembra que o plano era ficarmos bem?
"- Ei, olha só o que achei: cavalos-marinhos."
Sei que faço isso prá esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora.


e essa eu cantava para você

Meu Amigo, Meu Herói

Oh meu amigo, meu herói
Oh como dói saber que a ti também corrói
A dor da solidão
Oh meu amado, minha luz
Descansa tua mão cansada sobre a minha
Sobre a minha mão
A força do universo não te deixará
O lume das estrelas te alumiará
Na casa do meu coração pequeno
No quarto do meu coração menino
No canto do meu coração espero
Agasalhar-te a ilusão

1.7.03

meu pai dizia "o que não me mata me deixa mais forte"

desculpa, mas o derrame matou.
lembrei agora da gata xuxa.
pois uma noite, lá em surubim, ouvi um miadinho no quintal, fui ver, era um gatinho magrelo, preto com uma "gravatinha" branca no pescoço.
acabou que ficamos com ele, e papai resolveu chamar o bicho de gata xuxa.
um dia, ele pegou o gato, pegou um vidro de esmalte vermelho da minha mãe e pintou as unhas do pobre, que saiu andando em cima das unhas, tec-tec-tec, parecendo a encarnação do diabo.

;)

não ficou muito tempo com a gente depois disso. deve ter achado desaforo e fugiu.
meu pai não era perfeito. era machista, era mandão. queria tudo do jeito dele.
mas tinha um coração grande.
quando nos mudamos, em 86, de surubim para recife, ele mudou toda a decoração da casa. todos os móveis, ou quase todos. lembro dele pegar todos os pratos e talheres do dia-a-dia e levar, num isopor enorme (no isopor para não quebrar) e levar para tamandaré, para dar de presente a um amigo chamado Antonio Veludo, que era pescador.
esse Antonio Veludo era amigo de muito tempo, antes mesmo do meu nascimento. teve um natal que papai ligou para ele e mandou que eu falasse ao telefone imitando a viúva porcina, para desejar boas festas.
Claro que o Antonio não acreditou que eu era a viúva, mas deu muita risada do mesmo jeito.