lembranças são como uma polaroid ao contrário. a imagem que era clara e nítida vai borrando até ficar alguma coisa. que nem é a coisa mais importante, mas que, de alguma maneira, ficou marcada.
os dedos amarelos de nicotina.
o amor pelo café pequeno, doce, não muito forte. várias vezes por dia.
o jeito de bater o pão com manteiga depois de mergulhar no café: duas, três vezes na borda da xícara.
ou mergulhar bolacha sete capas no café com leite, comer a bolacha empapada com a colher; depois, virar o café no pires e beber, enquanto minha irmã ficava histérica e neon.
o fato de ser o pior motorista desde a invenção da roda.
e de prometer coisas e nunca cumprir. a viagem para a disney. a coleção de monteiro lobato. a bicicleta.
e do fato de dizer "quando eu puder, eu faço" ou "quando eu puder, eu dou" quando não queria negar de cara.
o lábio fino que se feria com o bigode, deixando um pontinho de sangue.
o cabelo preto e o bigode branco.
eu não gostava quando ele tirava o bigode. ele ficava tão bonito de bigode!
os paletós.
o adesivo de nitroglicerina colado no peito, rindo e brincando que era só para mostrar a camisa nova que ele falava nesse adesivo.
os cigarros carlton de caixinha.
os remédios para o coração espalhados pela casa.
os gladíolos aos sábados.
a mania de me mandar ir com mamãe para onde ela fosse, para ela não sair sozinha.
já falei que ele escrevia?
contos e poemas. os contos estão guardados na gaveta da estante, na casa da minha mãe.
escrevia fácil, simples, fluente e sem frescura. o que eu mais gosto é o conto do garoto, que tem lá sua cara de autobiográfico. o que me faz chorar é o que fala do enfarte dele, principalmente o trecho da minha visita, calada, assustada com os monitores e os fios colados no meu pai. eu tinha dez anos.
morro de ciúme até hoje porque ele escreveu um conto para graça, quando ela tinha sete anos: o peixinho dourado. ele nunca escreveu um conto para mim. e essa história contava de quando eles se mudaram da praia para o sertão, e um peixe dourado ficou triste porque graça não ia mais brincar com ele.
os dedos amarelos de nicotina.
o amor pelo café pequeno, doce, não muito forte. várias vezes por dia.
o jeito de bater o pão com manteiga depois de mergulhar no café: duas, três vezes na borda da xícara.
ou mergulhar bolacha sete capas no café com leite, comer a bolacha empapada com a colher; depois, virar o café no pires e beber, enquanto minha irmã ficava histérica e neon.
o fato de ser o pior motorista desde a invenção da roda.
e de prometer coisas e nunca cumprir. a viagem para a disney. a coleção de monteiro lobato. a bicicleta.
e do fato de dizer "quando eu puder, eu faço" ou "quando eu puder, eu dou" quando não queria negar de cara.
o lábio fino que se feria com o bigode, deixando um pontinho de sangue.
o cabelo preto e o bigode branco.
eu não gostava quando ele tirava o bigode. ele ficava tão bonito de bigode!
os paletós.
o adesivo de nitroglicerina colado no peito, rindo e brincando que era só para mostrar a camisa nova que ele falava nesse adesivo.
os cigarros carlton de caixinha.
os remédios para o coração espalhados pela casa.
os gladíolos aos sábados.
a mania de me mandar ir com mamãe para onde ela fosse, para ela não sair sozinha.
já falei que ele escrevia?
contos e poemas. os contos estão guardados na gaveta da estante, na casa da minha mãe.
escrevia fácil, simples, fluente e sem frescura. o que eu mais gosto é o conto do garoto, que tem lá sua cara de autobiográfico. o que me faz chorar é o que fala do enfarte dele, principalmente o trecho da minha visita, calada, assustada com os monitores e os fios colados no meu pai. eu tinha dez anos.
morro de ciúme até hoje porque ele escreveu um conto para graça, quando ela tinha sete anos: o peixinho dourado. ele nunca escreveu um conto para mim. e essa história contava de quando eles se mudaram da praia para o sertão, e um peixe dourado ficou triste porque graça não ia mais brincar com ele.
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