19.6.11

Mamãe foi hospitalizada. Ficou quase uma semana na UTI, pneumonia dupla. Viajei para perto dela. Ela melhorou, voltou para casa, eu voltei para o Rio.

Em casa, na gaveta de sempre, o caderno de contos do meu pai. Ele o escrevia a mão. Sua letra. Seus riscos, suas revisões, os contos que já sei quase de cor de tanto ler e reler.
Peguei o caderno. Botei na minha bolsa, pensando "antes que um aventureiro lance mão". Me imbuí de nobres intenções: "vou xerocar, vou encadernar, vou cuidar".
E, não sei o motivo, retornei o caderno ao saco plástico, à gaveta, intocado.
Se eu não contasse, ninguém saberia.

O caderno não é meu. Era do meu pai, é da minha mãe. Se um dia tiver que ser meu, será. Mas não será a sua cópia. Ela, eu não quero.