26.11.10

de tando lembrar e sonhar e pensar e reler cada momento, tenho medo de ter criado um novo pai na minha cabeça. quem ele era, na vida real? sobra tão pouco para eu me agarrar e dizer "ele era assim, com certeza."

eu já esqueci, eu já recriei, eu misturei sonho, realidade e saudade. o som de sua voz, como era? se eu ouvir, eu reconheço? como era mesmo que ele me pedia café? o cheiro da sua roupa, sua altura? as coisas se perderam como os pares das abotoaduras, dos pés de meia.

um dia eu vou olhar para trás e constatar, abismada, que eu criei meu pai.