31.10.03

papai me conhecia bem.
ele disse certa vez que "telinha ninguém coage: suborna"
porque quem bate de frente comigo se ferra.
vem uma força que eu não sei de onde e eu me garanto contra qualquer um que venha me forçar a fazer o que eu não quero.
quem vem com carinho me ganha.
já fiz muita coisa contra a minha vontade só porque era alguém querido que pedia. meu coração vira patê e eu fico feliz em ajudar.

23.10.03

eu mandei revelar alguns slides que papai tirou de mim quando eu era criança. e estou toda boba, olhando 11 fotos sem parar. noto que o tempo fez seus estragos nos slides, há marcas de fungos e manchas nas fotos, mas eu estou encantada: me vejo bebezinha, oito, nove meses, gordinha, muito alva, olho azul, uma chuquinha no cabelo, a fralda branquinha, no colo da minha mãe. tão novinha ela, tão magrela.
outras duas comigo aos dois anos de idade, cabelo cacheado, brincando com uma bola amarela no quintal de casa. uma de um ano e meio, vestida de eva no carnaval: calcinha, meia, duas folhas presas com durex fingindo de sutiã...
em várias fotos o enquadramento está errado, aparece mais parede do que eu.
vou escanear e postar aqui no blog.
mexendo nuns guardados, encotrei uma foto antiga, preto e branco, eu com quatro anos, ao lado de papai... e ela precisa de restauração, justo no rosto dele.
estou aqui namorando minhas fotos. teve uma que me chamou a atenção: não sei se eu lembro ou se me contaram a história: mas a foto foi tirada na noite da festa de 15 anos da minha irmã. como eu era muito pequena, fui dormir cedo, e como qualquer criança, eu não queria ir dormir e perder a festa. então, meu pai disse que ia tirar uma foto minha dormindo, bastava que eu trocasse meu pijama, me deitasse e fechasse os olhos.
na foto eu estou rindo, de olhinhos fechados.

queria que ele estivesse aqui para contar as histórias das outras fotos.
estou fazendo um curso, e logo no primeiro dia de aula o professor diz que não quer ser chamado de professor, pois será nosso amigo. e que ser amigo é mais que ser professor.

pensei logo em papai, que foi professor durante muitos anos. e fiquei com pena desse homem que não compreende o que é ser professor.

10.10.03

tás conversando água prá polícia?


nunca entendi como surgiu esta frase de papai, que significava algo como "tá querendo me enrolar?"

6.10.03

ontem eu me lembrei das meias de crochê que eu usava quando criança.
só em ocasiões especiais, com vestidinho bordado e sapato de boneca, preto, de verniz lustroso.

as meias eram uma tortura para os meus pezinhos.
meia de croché é feita em linha forte. imagine pisar nessa trama, com os pés apertados no sapatinho de boneca.

principalmente quando você, de pouca idade, vive descalça, de roupinha leve, cabelo solto, naturalmente embaraçado.

imagine usar vestido novo, com a recomendação expressa de não se sujar nem mexer em nada, cabelo cheio de cachinho que deu trabalho para fazer, meia de croché que sua mãe acha tão linda e o sapato de boneca.

é.
papai já dizia que mulher tem que sofrer para ficar bonita.
mesmo que seja aos quatro anos de idade.