estava conversando com minha mãe sobre as mudanças no conceito de semana santa. se até a minha geração - nascida nos anos 70 - semana santa era uma semana, hm, santa, agora ela é um feriadão a mais.
e eu lembrei de papai. de novo.
as comidas de peixe, o fato de não ouvir música na sexta da paixão. costumes que foram ficando para trás, no folclore familiar. respeitei a norma de não comer carne - comi lasanha quatro queijos. isso lá tem cara de comida de semana santa?
peixe de coco. bredo (bredo é uma planta que se come só na semana santa, com molho de leite de coco. lá em casa toda comida levava coco na semana santa). bobó de camarão. quibebe (creme de abóbora). tantas outras coisas que a memória já não lembra, sabores, preparações. os sorvetes de creme e chocolate feitos em casa, um sabor que eu não experimento desde que ele adoeceu. e eu tenho a receita.
deixa explicar pq eu não faço.
quando eu era menina, eu ia, nas terças e quintas, para a escolinha de arte do recife. pintar, brincar, modelar em barro. coisa de criança. lembro da casa de grade amarela, muitas flores, um quintalzinho com uma caixa d´água onde vivia uma tartaruga. lembro de salas amplas, a sala do piano escura e com um cheiro peculiar, o salão onde vez em quando tinha uma exposição com os trabalhos das crianças de lá.
uma vez, depois de grande, voltei lá.
me emocionei. as plantas eram as mesmas, a grade amarela continuava lá. as estantes de madeira escura. não tinha mais tartaruga.
mas tinha uma coisa estranha no lugar. uma coisa que eu não conseguia entender o que era.
até que eu percebi que eu via o que estava nas prateleiras altas das estantes.
não eram os bancos da sala que estavam estranhos. é que a escala havia mudado. eu cresci. a escolinha estava do jeito que sempre foi.
por isso não faço o sorvete.
papai era a alma da nossa casa.
de alguma forma eu tomei essa missão para mim, de continuar de onde ele parou. e, claro, meti os pés pelas mãos muitas vezes.
e eu lembrei de papai. de novo.
as comidas de peixe, o fato de não ouvir música na sexta da paixão. costumes que foram ficando para trás, no folclore familiar. respeitei a norma de não comer carne - comi lasanha quatro queijos. isso lá tem cara de comida de semana santa?
peixe de coco. bredo (bredo é uma planta que se come só na semana santa, com molho de leite de coco. lá em casa toda comida levava coco na semana santa). bobó de camarão. quibebe (creme de abóbora). tantas outras coisas que a memória já não lembra, sabores, preparações. os sorvetes de creme e chocolate feitos em casa, um sabor que eu não experimento desde que ele adoeceu. e eu tenho a receita.
deixa explicar pq eu não faço.
quando eu era menina, eu ia, nas terças e quintas, para a escolinha de arte do recife. pintar, brincar, modelar em barro. coisa de criança. lembro da casa de grade amarela, muitas flores, um quintalzinho com uma caixa d´água onde vivia uma tartaruga. lembro de salas amplas, a sala do piano escura e com um cheiro peculiar, o salão onde vez em quando tinha uma exposição com os trabalhos das crianças de lá.
uma vez, depois de grande, voltei lá.
me emocionei. as plantas eram as mesmas, a grade amarela continuava lá. as estantes de madeira escura. não tinha mais tartaruga.
mas tinha uma coisa estranha no lugar. uma coisa que eu não conseguia entender o que era.
até que eu percebi que eu via o que estava nas prateleiras altas das estantes.
não eram os bancos da sala que estavam estranhos. é que a escala havia mudado. eu cresci. a escolinha estava do jeito que sempre foi.
por isso não faço o sorvete.
certa vez eu ouvi um resto de conversa dele. falava de tio joãozinho, o irmão com quem havia brigado há tantos anos. ele disse algo como "se chegar a notícia da morte dele, eu não vou nem desligar esse rádio."
ele também não gostava que eu usasse blusa de alça. no tempo dele menino, só prostituta mostrava os ombros, eu vim saber muitos anos depois.
papai era a alma da nossa casa.
de alguma forma eu tomei essa missão para mim, de continuar de onde ele parou. e, claro, meti os pés pelas mãos muitas vezes.
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