e é difícil pensar nessa música sem um aperto no coração.
O Filho que Eu Quero Ter
(Toquinho/Vinícius de Moraes)
É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar o filho que eu quero ter
Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem
De repente o vejo se transformar num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde vim
Um menino sempre a me perguntar um por quê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
Dorme, menino levado, dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem
Quando a vida enfim me quiser levar pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus
Dorme, meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado com o filho que ele quer ter
e aí eu penso no filho que meu pai tanto quis e que nunca veio. e, que, de repente, chegou esta menina que escreve aqui as saudades do pai.
e eu vou contar como esta menina começou.
era fevereiro, 1970, minhas irmãs de férias. uma tinha 16, a outra tinha 10.
minha família ia para a praia na outra semana.
mamãe estava chateada. pelas contas, ela ia menstruar e não ia aproveitar a praia.
mas aí ela refez as contas e viu que ia dar para viajar sem problema.
então ela chamou papai e contou a novidade.
os dois sentaram nos degraus da escada que levava para o primeiro andar da casa e ficaram lá, conversando, a tarde toda. sonhando com o futuro e fazendo planos para o neném que ia chegar.
ele tinha 42, ela tinha 40.
21 de junho o brasil foi tricampeão e era o aniversário de papai. 43. eu chutava na barriga de mamãe. e todo mundo tinha certeza de que geraldinho ia chegar.
12 de outubro eu nasci. o doutor disse que eu ia nascer em novembro, o enxoval estava em recife. mas ninguém perguntou a minha opinião e eu nasci na unidade mista de catende. peguei todo mundo de surpresa, de novo. era de manhã e papai foi correndo tirar graça da escola, no meio de uma prova de matemática. quando a freira quis reclamar, papai pegou graça pela mão e disse que ela ia conhecer a irmãzinha. e saiu, deixando a freira falando sozinha.
e eu cheguei, linda, rosada, gordinha, de olho azul. a ponta de rama. e todo mundo esqueceu que era para nascer um menino.
O Filho que Eu Quero Ter
(Toquinho/Vinícius de Moraes)
É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim, chorando, acalentar o filho que eu quero ter
Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem
De repente o vejo se transformar num menino igual a mim
Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde vim
Um menino sempre a me perguntar um por quê que não tem fim
Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
Dorme, menino levado, dorme que a vida já vem
Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem
Quando a vida enfim me quiser levar pelo tanto que me deu
Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro beijo seu
E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus
Dorme, meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer
Teu filho sonha acordado com o filho que ele quer ter
e aí eu penso no filho que meu pai tanto quis e que nunca veio. e, que, de repente, chegou esta menina que escreve aqui as saudades do pai.
e eu vou contar como esta menina começou.
era fevereiro, 1970, minhas irmãs de férias. uma tinha 16, a outra tinha 10.
minha família ia para a praia na outra semana.
mamãe estava chateada. pelas contas, ela ia menstruar e não ia aproveitar a praia.
mas aí ela refez as contas e viu que ia dar para viajar sem problema.
então ela chamou papai e contou a novidade.
os dois sentaram nos degraus da escada que levava para o primeiro andar da casa e ficaram lá, conversando, a tarde toda. sonhando com o futuro e fazendo planos para o neném que ia chegar.
ele tinha 42, ela tinha 40.
21 de junho o brasil foi tricampeão e era o aniversário de papai. 43. eu chutava na barriga de mamãe. e todo mundo tinha certeza de que geraldinho ia chegar.
12 de outubro eu nasci. o doutor disse que eu ia nascer em novembro, o enxoval estava em recife. mas ninguém perguntou a minha opinião e eu nasci na unidade mista de catende. peguei todo mundo de surpresa, de novo. era de manhã e papai foi correndo tirar graça da escola, no meio de uma prova de matemática. quando a freira quis reclamar, papai pegou graça pela mão e disse que ela ia conhecer a irmãzinha. e saiu, deixando a freira falando sozinha.
e eu cheguei, linda, rosada, gordinha, de olho azul. a ponta de rama. e todo mundo esqueceu que era para nascer um menino.
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