14.8.03

eu estava no primeiro científico, ia fazer 15 anos. e leo olhou para mim.
e leo começou a colocar bilhetinho no meu caderno.
e leo começou a me acompanhar no caminho de casa.
e leo de vez em quando me roubava uma flor.
e leo era o menino mais lindo da classe.

e eu cresci ouvindo meu pai dizendo que, quando eu quisesse namorar, a primeira pessoa que devia saber era ele.

então eu cheguei em casa e contei.
pai, tou gostando de um menino da minha classe.

papai olhou para mim, sério.
e falou.
você é muito nova para namorar. depois se apaixona, vai querer casar. eu não deixo você namorar agora. vá e diga isso ao rapaz.
fiquei espantada. eu só queria namorar. casar era uma coisa além da imaginação.
eu queria dar uns beijinhos no menino mais lindo da classe, andar de mão dada, ser a namorada dele.
era 1985 numa cidade de interior. namorinho de colégio era só isso.
mas obedeci.
e ele era o menino mais lindo do mundo.
mas obedeci.

no outro dia, na sala, eu disse isso ao leo.
não posso namorar com você, meu pai não deu permissão.


e leo, que sentava ao meu lado, passou pro outro lado da sala. eu só podia vê-lo no recreio.



anos mais tarde, eu soube a razão dele cortar o meu namoro tão de cara.
aos 16 anos minha irmã inventou de ficar noiva do namoradinho.
foi um inferno em casa. não lembro nada, eu só tinha cinco anos.
papai teve medo de passar por isso de novo.
mas, como era de seu costume, não explicou a razão.
e eu também não perguntei.
obedeci e nunca dei um beijo em leo.