9.8.03

percebi que uma frase que me disseram há tempos se aplica a mim, a este blog. a frase é mais ou menos assim: "se queres ser universal, fala da tua aldeia."
estou recebendo tantos e-mails carinhosos sobre este blog. tanta gente que está lendo e se emociona e às vezes se reconhece. e eu tou só falando do meu pai. um homem de defeitos e qualidades, sem nada de extraordinário, nunca foi herói nem salvou criancinha do incêndio. e nem me arvoro a ser literata, quem, eu? imagina. literato é o drummond. e ainda assim, meu deus, tanta emoção me chega através de quem me lê. e amanhã é mais um dia dos pais e meu presente está aqui. tive meu pai com saúde por tão pouco tempo e tenho medo de perder o que ficou dele, por isso eu escrevo. e pessoas me encontram e falam coisas que me deixam sem jeito, rindo e olhando para os pés. mas como eu não posso escrever isso num e-mail. "suas palavras me deixaram rindo e olhando para os pés feito uma menina matuta", eu tento achar outras palavras.

mas quem foi geraldo? eu não sei. sei quem foi meu pai. porque ele era mil outras coisas: era promotor público, era irmão dos meus tios, era marido da minha mãe, era outro pai para minhas irmãs, era contista, era poeta, era amigo de um monte de gente, era brigado com outros... eu só conheço um aspecto dele e sei pouco dos outros. e, sabe de uma coisa? não me interessa, não estou biografando ninguém.

isso aqui é um blog de memórias. as minhas, dele.

então: geraldo era filho de dona stella e de seu ernesto. o mais novo dos homens. tinha muitos irmãos. alguns já morreram. ficaram quatro vivos, os três mais velhos e a irmã mais nova.

casou com maria helena e teve três meninas, três marias.

tem quatro netos: um menino, três meninas.

me deixou muito cedo e com uma certa inveja das minhas irmãs: elas tiveram mais tempo de pai do que eu.