20.8.10

eu tenho uma gata com câncer de mama. a Muriel tem 9 anos e eu notei um carocinho nela em fevereiro. Ela operou em março de um lado, tiraram toda a cadeia mamária (traduzindo, todas as tetinhas). Teve um pós-operatório dificílimo, odiou a roupa que protegia o corte, não comeu direito, não dormiu direito, os pontos não secaram no tempo certo.

Nessa mesma época a minha outra gata, a Bijoux, adoeceu gravemente e quase morreu. E depois de um mês da primeira cirurgia, quando ia ser feito o outro lado das tetinhas, a Muriel apresentou um quadro renal grave e precisaram adiar a nova operação.

Quando ela finalmente melhorou dos rins, a veterinária concluiu que já era tarde demais para uma nova cirurgia. O câncer é o mais agressivo e um tumor novo havia se desenvolvido do lado operado. Ela foi muito sincera comigo: podíamos operar, fazer quimio, mas não adiantaria nada. Ia só debilitar a Muriel. Então, com o coração na mão, decidimos deixar quieto.

Estamos no fim de agosto. Novos tumores apareceram. As tetinhas secretam um líquido pálido. Mas ela não emagreceu, se alimenta bem, só está mais quieta, mais fechada.

E hoje, observando Muriel dormir com a patinha cobrindo os olhos por conta da luminosidade, do mesmo jeito que eu cubro meus olhos com o braço quando estou dormindo, pensei que essa situação se repete na minha vida: ver quem eu amo adoecer e não poder fazer nada para curar. Eu vejo se repetir, na minha gata de 9 anos, o que eu vivi com meu pai. Eu não posso fazer nada, rigorosamente nada, a não ser amar.