11.12.09

há alguns dias, viajei para recife. e lá, eu fui visitar meu pai.


no domingo à tarde, fui à igreja das graças. meu pai foi coroinha lá, nos anos 40. e é lá que repousam seus ossos, junto de seus irmãos e minha avó. eu fui lá, sozinha. a igreja estava fechada, cheguei cedo. conversei com um senhor que foi pura doçura e atenção com minha vontade tão delicada: ver o ossário onde está meu pai, rezar por ele. esperei. esperei. esperei. mas o sacristão chegou, abriu as portas. e eu pude ficar frente a frente com o nome do meu pai.

então chorei. chorei de soluçar, de não morder o nó do dedo. chorei de saudade. chorei de reencontro. cantei, chorando, para ele, as músicas que ele gostava. cantei trocando estrofes, errando as letras. deixei lá uma lembrança minha, uma bonequinha pequena de madeira com o escudo do nosso time de futebol. eu estive aqui, pai, olha, lembra de mim. me ajuda, me protege, me orienta. chorei a injustiça de viver sem ele. vi os outros nomes nos ossários perto dele: lá estava minha família. chorei pela tia velhinha que morreu sem que eu pudesse ir me despedir dela. chorei pela avó que não conheci, pela tia que morreu mocinha, pelo tio que eu amei quando era menina.

chorei de cansar. sentei num banco, chorei, cantei, não queria saber se me ouviam. se me julgavam. eu estava falando com meu pai.

eu sei e vocês sabem. ele - ele - não estava lá. são apenas seus ossos, seu resto. mas é meu pai. e mesmo com ele vivendo em mim a minha vida toda, era diferente.

chorei, serenei, fui para casa.

falei para mamãe. eu sei que ela queria que eu fosse com ela, para que ela também prestasse suas homenagens. mas se ela estivesse do meu lado, eu me preocuparia em protegê-la. eu ia cuidar dela. e eu não ia chorar, para ela não ver e não ficar triste.

melhor assim.