28.1.04

Infância

Vi um segundo e meio do Globinho no Video Show. Trouxe tanta coisa de volta... Eu adorava o Globinho. Queria que a Paula Saldanha fosse minha irmã (como eu achava lindo aquele cabelo dela... tudo que eu queria ser, aos 7 anos de idade). Lembrei dos patinhos de dobradura, dos gatos de massa Mio e Mao (até da música) e claro, dos Barbapapas... Barbapapa, Barbamama, Barbalaláaaaaaaa... eu quero ser um barbapapa...

E tem uma coisa que eu lembrei mas Fred achou meio estranha: as reportagens sobre esquistossomose. É que minha família morou numa granja que tinha um rio passando, e eu tinha medo de caramujo por causa do xystosoma cruzi!

Fred me lembrou agora da Vila Sésamo. A gente gravou alguns episódios que passaram em reprise na TV, ainda em preto e branco. Eu lembro pouco do programa, era muito pequena quando ele era transmitido, mas não esqueci do monstro do biscoito, Garibaldo e o Gugu que morava no barril. O monstro do biscoito era ótimo: Era um bicho grandão, que abria um bocão e dizia "biscoooooooooooito!" e eu morria de rir. Minha mãe me disse que eu aprendi a ler com Vila Sésamo, antes de entrar na escolinha.

Meu pai imitava o monstro do biscoito para mim, e inventou o Fantasma da Meia Noite, se escondendo atrás das cortinas do quarto dele e da minha mãe. Ele também cantava para mim "Você me mata de rir fazendo cócegas" e "Por ti eu me esborracho todo, morena". Bastava ele dizer a primeira palavra das músicas e eu gargalhava de ter soluço.

Eu devia ter uns seis, sete anos, quando minha irmã e eu demos um susto memorável na minha mãe. Ela engendrou a trama e eu botei em ação... Lá fui eu falar com mainha, com a mão cheia de chocolate confeti. Assim que ela me deu atenção, virei os chocolates na minha boca e disse: "Mãe, tomei os comprimidos de painho". Ela ficou branca! A risada da minha irmã entregou a brincadeira, e minha mãe botou a gente de castigo. E olha que minha irmã estava perto dos 18 nessa época.

Eu tinha cinco anos, morava numa casa com quintal, no alto de uma ladeira, e tinha dois cachorros: um pequinês chamado Mogli e um fox terrier fujão chamado Ico. O nome dele era para ser Dener, que era um costureiro famoso da época, mas quando ele chegou em casa eu era muito pequena e não sabia dizer esse nome. Ele era branco e preto, eu queria dizer que ele era bonito, dizia que era "ito", minha mãe entendia "ico" e ficou Ico mesmo.
Ico amava meu pai mais que tudo no mundo, mas não deixava de fugir de casa. Uma vez meu pai viajou, Ico arrastou uma camisa de pijama velha do meu pai, deitou na cama de casal e não deixou ninguém chegar perto; mamãe teve que dormir em outro canto. Quando eu tinha sete anos aconteceu uma coisa horrível: painho tinha chegado da feira e eu fui ver o que ele trouxe. Ico me estranhou, ou achou que os pacotes eram só do meu pai e ninguém podia mexer neles e acabou me atacando. Meu pai deu um chute nele e pensou até em matar na hora, mas minha irmã mais velha não deixou (ou foi ela que pediu que painho matasse o cachorro e ele não quis, não lembro direito). Acabou que ele pegou Ico, botou no carro, dirigiu para longe e jogou ele na rua. Muitos anos depois me disse que se arrependia de ter feito isso, achava que Ico não teria como sobreviver abandonado e era melhor ter matado de uma vez, para ele não sofrer. E eu tenho uma cicatriz pequena perto do pulso por causa daquele dia, mas não deixei de gostar de cachorro por causa disso, só tenho um pouco de medo quando ele é de rua ou não é meu.