12.9.03

depois que aposentou, com muito tempo nas mãos e pouca coisa na cabeça, meu pai danou de ligar pro disque-amizade. e ficava horas dizendo que se chamava alberto e era um advogado de 30 anos (isso, com voz de 60, dizendo que tinha 30. coitado, iludido...)
aí minha mãe pegou ele no pulo.
minha mãe é desse tamainho. na hora da raiva ela cresce. acaba com você sem elevar o tom de voz nem despentear o cabelo. apesar das aparências, nas quais papai era deus e senhor do universo familiar, ele morria de medo de fazer mamãe ficar com raiva de verdade.
pois mamãe acabou com ele.
eu ouvi um tiquinho da briga. briga não, lição de moral.
"geraldo, você tem uma filha mocinha em casa. isso é exemplo que se dê?"

papai, o deus do trovão, do grito, da lei, recolheu-se à sua insignificância e nunca mais ligou pro disque-amizade quando eu estava em casa e mamãe também.


"minha filha, eu prefiro enfrentar dez júris seguidos a ter uma briga com a sua mãe"