o caso terri
Tenho acompanhado o caso da mulher em coma que está mobilizando meio mundo lá nos estados unidos.
posso falar isso de cadeira: meu pai esteve em coma por cinco anos, e se não fosse alimentado certamente morreria. meu pai não estava mais consciente, não reconhecia as pessoas, não se comunicava de maneira nenhuma. meu pai era um bebê grande que ao invés de crescer, retrocedia. e foi amado, imensamente amado, até seu último momento.
dito isto:
eu acredito que as pessoas têm o direito de morrer com dignidade. meu pai morreu com dignidade? morreu. mas se ele tivesse declarado em vida que não gostaria de ser mantido vivo no estado em que ficou depois do AVC, eu seria a primeira a batalhar para que sua vontade fosse cumprida. eu não gostaria de viver como meu pai viveu naqueles cinco anos. eu não acho que ele tenha sofrido, pois não era consciente do seu estado. mas tudo que ele viveu, dependente, frágil, indefeso, era o oposto de quem ele foi quando sadio. meu pai ria, brincava, gritava. meu pai era cheio de vida e virou um bebê grande, de quem a família cuidou com carinho e respeito. respeito porque, mesmo em cima de uma cama, mesmo com a sonda naso-gástrica, mesmo com seu espírito morto, ele ainda era o pai, o marido e o dono da casa. passamos dificuldades para que nada lhe faltasse. ele era a prioridade e hoje temos a sensação do dever cumprido.mesmo assim, eu repito: temos o direito de morrer com dignidade. houve dignidade no tratamento do meu pai, mas a doença que se abateu sobre ele é cruel. é meu direito dizer que não quero ficar assim, quero ir em paz na minha hora, não quero fios, respiradouros, não quero sondas. quero deixar tudo para trás e seguir leve e adiante.
mas o caso terri, telinha?
aí a coisa muda de figura. pois se ela pediu, deve ser respeitada. se ela não pediu, deve ser cuidada. se o marido está extenuado (e como cuidar de uma pessoa nessas condições é massacrante emocionalmente! a gente vive com medo, a gente vive em alerta) e quer refazer sua vida, ele tem todo o direito. que terri seja cuidada por outras pessoas, por seus pais, talvez. mas é uma questão de foro íntimo, que lei nenhuma vai poder limitar.
e vejam o seguinte: o marido deu a cara à tapa. ele está mostrando abertamente uma discussão que poderia ter sido feita às escondidas, e a vida de terri poderia ter terminado silenciosamente, com uma injeção de um remédio qualquer. teoricamente, seria muito simples conseguir esta eutanásia, do mesmo jeito que se conseguem abortos no brasil: com dinheiro e hipocrisia.
Tenho acompanhado o caso da mulher em coma que está mobilizando meio mundo lá nos estados unidos.
posso falar isso de cadeira: meu pai esteve em coma por cinco anos, e se não fosse alimentado certamente morreria. meu pai não estava mais consciente, não reconhecia as pessoas, não se comunicava de maneira nenhuma. meu pai era um bebê grande que ao invés de crescer, retrocedia. e foi amado, imensamente amado, até seu último momento.
dito isto:
eu acredito que as pessoas têm o direito de morrer com dignidade. meu pai morreu com dignidade? morreu. mas se ele tivesse declarado em vida que não gostaria de ser mantido vivo no estado em que ficou depois do AVC, eu seria a primeira a batalhar para que sua vontade fosse cumprida. eu não gostaria de viver como meu pai viveu naqueles cinco anos. eu não acho que ele tenha sofrido, pois não era consciente do seu estado. mas tudo que ele viveu, dependente, frágil, indefeso, era o oposto de quem ele foi quando sadio. meu pai ria, brincava, gritava. meu pai era cheio de vida e virou um bebê grande, de quem a família cuidou com carinho e respeito. respeito porque, mesmo em cima de uma cama, mesmo com a sonda naso-gástrica, mesmo com seu espírito morto, ele ainda era o pai, o marido e o dono da casa. passamos dificuldades para que nada lhe faltasse. ele era a prioridade e hoje temos a sensação do dever cumprido.mesmo assim, eu repito: temos o direito de morrer com dignidade. houve dignidade no tratamento do meu pai, mas a doença que se abateu sobre ele é cruel. é meu direito dizer que não quero ficar assim, quero ir em paz na minha hora, não quero fios, respiradouros, não quero sondas. quero deixar tudo para trás e seguir leve e adiante.
mas o caso terri, telinha?
aí a coisa muda de figura. pois se ela pediu, deve ser respeitada. se ela não pediu, deve ser cuidada. se o marido está extenuado (e como cuidar de uma pessoa nessas condições é massacrante emocionalmente! a gente vive com medo, a gente vive em alerta) e quer refazer sua vida, ele tem todo o direito. que terri seja cuidada por outras pessoas, por seus pais, talvez. mas é uma questão de foro íntimo, que lei nenhuma vai poder limitar.
e vejam o seguinte: o marido deu a cara à tapa. ele está mostrando abertamente uma discussão que poderia ter sido feita às escondidas, e a vida de terri poderia ter terminado silenciosamente, com uma injeção de um remédio qualquer. teoricamente, seria muito simples conseguir esta eutanásia, do mesmo jeito que se conseguem abortos no brasil: com dinheiro e hipocrisia.
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