23.6.03

noite de são joão.
a festa que meu pai mais gostava, a festa que eu mais gosto. espero que ele esteja vendo a festa nas cidades pequenas, com as crianças de chapéu de palha, com a fogueira queimando, e se lembre de mim, dos meus vestidinhos e do chapéu de trancinha.
são joão é uma festa alegre por definição. não se perdeu como o carnaval, não é agridoce como as festas de fim de ano. são joão é feito de cheiros: de amdeira queimada, de milho cozido, de pólvora.
de barulhos de traque de massa e peido-de-véia.
de muitos risos.
de procurar canto escuro para acender a estrelinha, o pé-de-pinto.
de dançar a quadrilha mais desajeitada possível.
de botar a cadeira na calçada e conversar com os vizinhos.
meu pai amava são joão. eu também amo.
e sempre vou lembrar dele neste 23 de junho, mesmo que eu esteja sem fogueira, sem milho, sem crianças e ouvindo luiz gonzaga em mp3.

meu pai menino no são joão, da minha idade.
eu menina, da idade do meu pai, pedindo que ele me pegasse um pedaço de madeira com a ponta em brasa para acender meus fogos, ou a ponta do cigarro.

meu pai indo comprar a lenha da fogueira, tantos anos atrás, em 86. uma vida inteira, meu pai, e eu fico prendendo o choro pois esta noite é de alegria. pois seu aniversário faz poucos dias, mamãe fez canjica, debulhamos o milho - eu fiquei tirando os cabelinhos das espigas do milho que a gente plantou dia de são josé, lembra?

uma vez eu fiz trança em todas as espigas de milho dos pés que plantamos no quintal. ele só riu. mamãe achou estranho.

pai, pai, que falta hoje. o dia de hoje é de alegria, me faz ouvir tua risada só mais uma vez.