4.6.03

bença, pai.

uma das últimas poesias que eu escrevi foi para você. para o senhor. quer dizer.

bença pai.

a poesia tá numa pasta onde tem uma menina sentada no chão com patins, tudo muito em tom pastel, muito menininha.
escrevi pouca poesia depois dessa.

bença, pai. que saudade de dizer bença, pai. deus abençõe, filha.

teeeeela!

senhor!

me faz um café pequeno.
acende a luz.
canta aquela música prá mim.

tela, me benze.
"geraldo, você em pé e seus inimigos deitados. mais do que deus, ninguém."
Deus é com maiúscula, menina.
Sim, pai. Deus, Deus, Deus, Deus e Deus. Cinco vezes para nunca mais escrever errado.

ô Leeeeeeeeeeeena!
Mainha saiu, pai.
Prá onde?
Foi na vizinha.

Teeeela!
Senhor!
me traz água misturada.

Pai, como você pedia coisa. e às vezes eu era a má-vontade encarnada em gente.

Pai, dá dinheiro?
De novo? Prá quê?


Uma vez, pai, você voltou de recife e me trouxe o disco da madonna. o primeiro. eu fiquei boba.não tinha tido coragem de pedir. e o senhor me deu assim do nada: a vendedora disse que vocês gostam dela.

Como de uma vez que eu sentei no chão e ouvi legião urbana com minha mãe, explicando tudo.

E da outra vez que o senhor entrou no quarto e disse que a música que eu tava ouvindo era bonita.
pena que eu não lembro que música era.

e da vez que o senhor penteou meu cabelo.
e da vez que o senhor quis pintar ele de louro, lembra? botei um bico desse tamanho, quase chorei, eu tinha 16 anos.

e do senhor me dizendo que moça elegante tem que saber andar de salto alto.
ih, pai. eu de salto alto pareço uma pata com labirintite.

bença, pai. te amo muito. muito, muito, morro de saudade.



depois que eu escrevi, me lembrei que chamava mais painho do que pai. mas não quis mudar.