19.6.03

e junho tá aqui, já passou da metade, dia 21 seria o aniversário de 76 anos do meu pai. nossa, ele seria velhinho.
um velhinho brabo.

junho é festa de são joão e minha mãe fazendo canjica e decorando com losangos de canela em pó ou as letras G H.

junho é frio. é cheiro de madeira queimando, de pólvora, barulho de fogos, gritos de crianças e sanfona.

um junho, eu era menina, nós fomos para um convento em carpina, tinha hospedaria lá, eu acho. e eu usava um tamanco vermelho. como eu gostava desse tamanco vermelho... e tinha um senhor que tinha lutado numa guerra. que guerra? que idade esse senhor teria? aos meus olhos, era velho. a mulher dele pediu às crianças que não brincassem com fogos perto dele, que ele tinha ido à guerra. e que os fogos lembravam bombas e ele ficava nervoso. lembro quase nada desse são joão, só do homem que foi à guerra. isso era 77, 78? será que ele lutou no vietnã? na coréia? na segunda guerra? será que tinha sido aqui no brasil mesmo?

eu era bem pequena. era festa de são joão num sítio de algum amigo do meu pai. eu queria acender uma estrelinha. de alguma maneira a porta do carro estava aberta. eu pedi para o meu pai me dar o cigarro, para eu acender a estrelinha na brasa.
a porta do carro tinha daqueles bolsos com elástico. de alguma maneira o cigarro caiu lá dentro e pegou fogo. eu lembro da minha mãe correndo com um jarro - acho que de limonada - para jogar na porta do carro e apagar o fogo. lembro que eu chorei muito.

mas o que faria um jarro de limonada numa festa de são joão? não se bebe limonada no são joão.