19.2.09

ontem a minha irmã mais velha leu para mim a dedicatória de seu trabalho de conclusão de mestrado. ela o ofertou a nossos pais. e, enquanto ela falava de tão longe as palavras delicadas que encheriam papai de orgulho e encherão mamãe de lágrimas, eu pensei que os meus pais e os pais dela, apesar de serem rigorosamente as mesmas pessoas, são tão diferentes entre si quanto um retrato da pintura desse retrato.

o pai das minhas irmãs, o meu pai. ambos são uma única pessoa, da qual só conheço parte. e me dá uma sensação de arqueologia, de descobrir pedacinhos de uma civilização perdida. eu tenho timidez e respeito pela dor alheia, por isso ainda não liguei para minha tia e pedi para que ela contasse histórias da adolescência dos dois: ela e papai eram os filhos mais novos da minha avó. eu vi uma foto deles prontos para ir para a escola, um rapazinho, uma mocinha, muito sérios na frente de casa, no jardim, eu acho.

mas ela o amou muito, e eu tenho tanto medo que isso, ao invés de trazer a saudade boa que eu sinto, faça com que ela sofra. minha tia. eu tenho o mesmo nome dela, o mesmo nome da minha avó.