27.9.03

você, que tem pai, que está me lendo, não pense que pelo amor que tenho pelo meu pai eu sou ou fui cega. sei de seus defeitos, do autoritarismo. mas até para isso eu olho com carinho. porque ele foi uma pessoa completa. homem nenhum ocupa o lugar de pai que é dele por direito e por minha admiração.
seu pai tem defeitos. o meu tinha.
somos humanos, todos. cada qual com uma qualidade a mais do que o número de defeitos. eu também tenho os meus, e espero que a vida transforme a maioria deles em qualidades. sou humana, falível, já pisei tanto na bola que nem sei.
mas você, que me lê, que tem pai, que se emociona com o que eu escrevo, saia da frente do micro, vá dar um beijo nele, ligue para dizer oi, faça alguma coisa agora.
porque sempre pode ser tarde demais. e depois que a pessoa morre, já dizia meu pai, não adianta nada.
não adiantaria nada escrever sobre ele se eu não o tivesse amado em vida. com seus defeitos, apesar deles, e até por seus defeitos também.
sim, briguei com ele, bati porta, xinguei baixinho, achei que ele foi injusto, feio, chato, burro, castrador, o caramba. mas isso em nenhum segundo apagou o amor que eu sempre tive e o respeito que ele sempre mereceu.

não espere que seu pai seja perfeito, ele não é. nem sua mãe, nem os avós, nem seus irmãos e mais ninguém no mundo. e nem caia na fantasia de que você é o único que está certo no universo.

pare de julgar, se está julgando. não importa se ele deu motivo. se as coisas não chegaram a níveis catastróficos, pare de ler e vá viver esse amor.