15.1.09

lembrei agora de um grande amigo que já morreu. ele foi meu segundo pai, eu acho. a gente conviveu por pouco tempo, mas ele foi - e é - muito importante para mim.

thomas edson soler. soler, meu amigo mais velho, que dizia que eu era sua filha também. ele tinha uma menininha de dez anos, a gardênia, que eu conheci um dia. claro que as semelhanças fizeram toda a diferença (rá!, diria a minha amiga fal) na amizade da gente.

ele fazia frilas na rádio que eu trabalhava, então a gente estava sempre se vendo. dono de um sorriso grande, um coração maior ainda. segurava minha mão na horas horas em que a vida era muito complicada para mim. eu o ouvia, ele me ouvia.

uma vez eu tava saindo da minha sala e o vi na outra ponta do corredor. esqueci que estava no trabalho, fui correndo abraçar. lembro do meu cabelo grande balançando enquanto eu corria. lembro do abraço.

um natal, tantos anos atrás, uma vida atrás, eu dei a ele um bonequinho de bola de gude, um mago merlin. disse que parecia com ele, e ele se emocionou.

ele sumiu um tempo. depois eu o encontrei na rua, nós dois apressados, ele indo prum médico, eu indo na direção oposta. ficamos de nos encontrar. achei soler magro, abatido. mas pensei que gente mais velha vive indo a médico. não me preocupei.

algum tempo depois, atendi um telefone no trabalho. alguém avisava que ele iria ser enterrado logo mais. meus joelhos tremeram. minha chefe disse para eu ir representando a rádio. eu não fui. eu não pude ir. eu não quis ir.

alguém me falou depois que ele não quis que ninguém o visse doente, só a família. eu entendi. eu tive uma tristeza grande por não ter estado ao lado dele mais tempo. eu me senti mal por não ter ficado conversando com ele alguma tarde toda, mesmo ele sem querer ver ninguém. eu não tive como me despedir do meu amigo mais querido.

comentei com uma pessoa que o conhecia que ele morreu. a pessoa fez pouco caso. eu tive, e tenho, uma pena imensa dela. ela teve a oportunidade de conhecer uma pessoa maravilhosa e simplesmente não o enxergou.

2.1.09

tem dias que a saudade de casa aperta e eu leio os jornais de recife. e, numa coluna social eu vi um amigo de papai: doutor jones fiqueiredo. não eram amigos íntimos, eram mais colegas de trabalho; ele era juiz e papai era promotor. mas enfim, trabalharam juntos quando eu era criança. doutor jones estava sorrindo, do lado de outros juízes, eu acho. fiquei feliz em vê-lo, já velhinho. quer dizer, não velhiiiiiiiiiinho, mas enfim. cabelo branco. sorridente, mais gordinho. pensei em papai. deu vontade de avisar, painho, doutor jones tá no jornal. deu vontade de que meu pai também estivesse nessa foto.

1.1.09

fim de ano lá em casa era assim: mesa farta. meu pai sempre fez questão de muita, muita comida. e a carcaça do peru ia pro feijão, numa coisa que minha mãe chamava de "enterro dos ossos". o feijão ficava com um gostinho diferente, de fim de ano, muito bom.