22.11.07

eu estava conversando com minha tia materna sobre uma música que minha mãe gosta. cantamos um trechinho e ela me disse que meu vô gostava muito dessa música e pedia para ela cantar para ele.

eu sorri. papai também pedia para eu cantar as músicas que ele gostava.

15.11.07

quinze anos esta noite.

hoje o peso da saudade tá muito grande. eu não conto o tempo que ele se foi, mas quinze anos é tempo demais. ano que vem serão vinte anos sem ouvir a voz dele. é muito tempo, é massacrante a ausência.

e no rádio tocou uma música. eu nunca prestei atenção nela, era só mais uma descartável. até que eu ouvi, pela primeira vez, estes versos:

Te guardei onde ninguém vai tirar

No fundo dos meus olhos
Pra dentro da memória te levei

(LS Jack - Carla)

é isso. eu tenho meu pai guardado onde ninguém vai tirar.

fico pensando se eu estou onde ele gostaria que eu estivesse. se minha vida é do jeito que teria que ser se ele não tivesse adoecido e morrido. quinze anos atrás eu não fazia nenhum plano para 2007. vivi um dia depois do outro e estou aqui.

12.11.07

conversando com mamãe no telefone, ela falou que este ano se completam 15 anos da morte de papai.

15 anos.

juntando os cinco anos dele em coma, em fevereiro do ano que vem vão fazer 20 anos que eu não ouço sua voz.

eu tenho 37 anos. é espantoso, é muito pesado colocar isso em números. porque é muito, muito, muito tempo.

não vou dizer que parece que foi ontem que isso tudo aconteceu porque não parece. mas depois que a gente sobrevive um dia depois do outro e depois vive um dia depois do outro e depois não nota um dia depois do outro, o peso de se passar tanto tempo assusta.

eu não consigo mensurar 15 anos. lembro dos meus 15 anos, ele estava lá.

consigo saber o que são 15 anos em tempo vivido. em tempo ausente foi um choque. foi uma pancada no peito, e eu parei aqui sem saber o que dizer.