29.8.07

tem horas em que eu preciso muito do meu pai do meu lado para me explicar as coisas. e fico olhando pro vazio, porque não há quem explique a morte.

17.8.07

Meu

Meu ponto de partida e de chegada
Minha referência mais sólida
Que se desfaz aos poucos
Mas em mim tão sólida
Quanto ficou por dizer e por beijar
Quanto ainda por aprender
Por me ensinar
E eu vejo você como um rei
de um império que desmorona
aos poucos
depressa desmorona
e você é um rei tão digno
enquanto tudo se desfaz
para dar lugar a mim
que me vejo princesa de um reino inacabado
que me vejo espectadora
do teu império em ruínas
mas ruínas que tanto amo
eu me vejo princesa
sem ter experiência nem nada
Preciso de você, meu rei
meu pai
em mim você reina com esplendor
e seu império prospera cada dia
meu pai, as aparências não enganam
mas eu prefiro a minha ilusão
Só não me iludo
quando digo que em mim
você é eterno e completo
em mim você vive saudável
e as aparências
e as circunstâncias
tantas vezes tão constrangedoras
para você
para nós
elas não valem, pai.
O que vale é o nosso amor
e o que eu sinto
e vejo muito além dos teus olhos
muito além dessa doença
te vejo firme
saudável
e de braços abertos prá mim.


escrito em 1988, depois de papai entrar em coma.