28.2.04

eu sei que tem tempo que não escrevo aqui. é que eu estou com a sensação de que já falei o que precisava, já completei o ciclo.
nunca vou deixar de amar meu pai e de sentir sua falta. tenham certeza disso. só a urgência de falar é que acalmou.

qualquer dia desses a gente conversa de novo. e, para quem está chegando agora, fique à vontade, os arquivos estão cheios, o coração também.

3.2.04

um menino do meu curso perdeu o pai no domingo.
o carro do pai dele quebrou, e quando o pai dele desceu para botar o triângulo no chão e chamar um reboque, foi atropelado e morreu na hora.
foi o que eu soube.

o menino - que eu nem sei o nome direito - tava na aula, normal. sentou atrás de mim, fez perguntas, fez os exercícios que o professor mandou. só no fim da aula o professor chegou perto dele, cochichou um pouco e jogou a bomba, pedindo orações pela família do menino.

apertei a mão do menino - vinte e poucos - e disse, já passei por isso, fica com deus.


não, eu não passei por isso.
meu pai não saiu de casa certo dia e não voltou mais.
ele morreu devagarinho, dando tempo para a gente se despedir e sofrer em gotas o que esse garoto sofreu duma vez só.