28.5.03

eu estava vendo tv outro dia quando prestei atenção num comercial da revista TPM - no texto da Milly Lacombe, que merece meu aplauso e admiração. é uma cena num estádio de futebol, talvez o maracanã, não sei. nesse texto ela fala que há dois anos o seu pai morreu, que ele era um amigão, e que se ela pudesse falar mais uma coisa só para ele, diria obrigado. e se pudesse falar mais um pouquinho, diria que o fluminense ganhou do vasco, de virada, no finalzinho do jogo, como antigamente.

tive um impacto quando prestei atenção no texto. cheio de amor e daquela cumplicidade pai e filha que me faz tanta falta.


outro dia, falei pro fred que ele sentia tanta falta da mãe dele quanto eu sinto do meu pai. só que eu demonstro.
ele deu uma engasgada e disse que a questão da mãe já tava processada nele.


sei.

21.5.03

às vezes meu pai pedia para eu tirar seus sapatos. eu tirava. ele era gordo, devia ser meio complicado tirar os sapatos.
queria tirar os sapatos dele de novo.
outro dia, pensando no que ia escrever aqui, me espantei com a lembrança de que, se meu pai quisesse escrever sobre o pai dele, vô ernesto, não poderia escrever muita coisa. vô ernesto saiu de casa com papai pequeno, com 3 anos de idade. os dois só foram se rever quando papai tinha 18 anos, e o vô morreu pouco tempo depois.

eu reclamo do pouco tempo que tive com meu pai, e ele teve menos ainda com o pai dele.

15.5.03

rodei o google atrás de uma música que meu pai gostava e que se chama Cobertor de Poeta. não achei chongas. não sei quem canta, nunca ouvi. ele gravou numa fita que se estragou logo depois. sempre tive essa curiosidade, que o google não matou.

e tu sabia que meu pai gostava do filme clube dos cinco? aquel, puro anos 80, dos cinco meninos de castigo no colégio? um eclético, esse meu pai.
meu pai dizia: se gosta de mim, mostre agora. não venha mandar rezar missa depois deu morto.

eu mostrei. ai que orgulho, eu mostrei. disse que amava, fiz birra, dei presente, ganhei flor, deitei no colo, fiz cafuné e cafezinho. ele sabe o quanto eu o amo.

13.5.03

pensei em tanta coisa para escrever aqui, mas agora deu branco.

2.5.03

meu pai e suas mãos. dedos amarelos de nicotina. calo no dedão, de tanto morder quando pensava. seu cabelo preto e liso, fininho, seu bigode branco. sua cara quadrada.

uma vez vi gianfrancesco guarnieri na tv, com um terno, chorei de saudades do meu pai.
a mãe de um amigo foi pro céu. e eu penso nela e na primeira vez que a vi. vou sentir saudades.