28.4.03

meu pai foi muito diferente para mim e para minhas irmãs. com a mais velha foi de um jeito, com a do meio foi de outro, chegou até mim amaciado, pai aos 42 é diferente de pai aos 23.

mas irrita. elas tiveram pai por muito mais tempo que eu e eu sinto que fui roubada de décadas de pai. e por vontade indireta dele, que disse que não queria médico mandando nele.

ele nunca quis ninguém mandando nele. o que ele gostava era de ser chamado de doutor e das pessoas obedecerem seus mandos e desmandos. por isso acabou promotor.

"juiz é pavão, minha filha. só quer aparecer. já promotor é galo de briga."

palavras dele.

25.4.03

uma coisa que eu não consigo me lembrar é do cheiro do meu pai. que perfume, que desodorante. e era um cheiro forte, bom. quando ele adoeceu e ficou em coma por cinco anos, eu abria o guarda-roupa e cheirava seus paletós. era um jeito dele estar mais perto. mas não consigo dizer qual o cheiro, além do cheiro de cigarro. porque ele fumava quatro carteiras do carlton de caixinha por dia. e sempre havia pacotes e pacotes fechados no guarda-roupa, para não acabar de uma hora para outra.
sinto falta dele, do cheiro dele.

22.4.03

engraçado.
tava contando para minha sobrinha a história de quando meu pai matou um passarinho por conta da minha irmã que tava estudando pro vestibular.

vestibular desregula qualquer juízo. ela reclamou que o pássaro cantava e atrapalhava de alguma forma o sono ou a concentração nos estudos, não lembro. pois meu pai teve a idéia de jerico de trancar a gaiola no guarda-roupa para o pobre animal achar que era noite e dormir.

pois dormiu foi o sono eterno, sufocado.

minha sobrinha disse que a mãe renega essa história, que foi invenção do meu pai.
e eu, soltando de dentro do coração, sem pensar no que dizia "pois entre a palavra de sua mãe e a de papai, fico com a dele!"


pois é.

17.4.03

semana santa lembra papai.
não podia ouvir música na sexta feira santa, era desrespeito.
era pecado.
nem varrer casa.
quando papai era menino aprendeu essa com vó stella.
mas papai tinha lá seu acordo com deus. acordo que sofreu mudanças quando a missa deixou de ser rezada em latim.
meu pai foi coroinha, e eu nunca vi foto dele arrumadinho - o que é uma pena.
sinto falta dele nesta época do ano.
mas é no são joão que sinto mais saudade, era a festa da gente. fogueira, risada, estrelinhas...

11.4.03

voltei, ainda com micro quebrado, mas com muita vontade de escrever de novo.
véio geraldo, como chamava um amigo meu, sinto muita saudade do senhor. de você. nunca sabia que tratamento dar a meu pai. às vezes senhor, sempre quando ele chamava "teeeela!", se eu respndesse "que é?" levava bronca.
também ñão podia dizer bunda, que era nome feio.